Na abertura da conferência “40 anos da APB - Papel da banca no desenvolvimento económico e social”, a vice-governadora do Banco de Portugal, Clara Raposo, sublinhou o facto de a banca ter hoje "melhores práticas" e ser "melhor gerida".

"Há ainda muitos desafios a enfrentar", disse, reconhecendo que os bancos estão mais "robustos" do que há 15 anos, aquando da crise financeira de 2008/2009. Adaptaram-se ao diversos contextos e melhoraram, nos últimos anos, os seus "rácios de capital, liquidez e rentabilidade".

Após ultrapassadas as dificuldades, "os bancos portugueses conseguiram adaptar-se ao contexto da margem financeira, tornaram-se mais eficientes" (as taxas de juro elevadas ajudaram) e registaram "um retorno de capital para os acionistas (ROE) positivo".

Para os próximos 40 anos, Clara Raposo elencou alguns desafios, que vão fazer sentir-se, nomeadamente a " intensificação da concorrência enfrentada pelos bancos portugueses, como novos players em alguns segmentos de mercado, como pagamentos".

Assim como a anunciada "introdução da moeda digital que poderá ter algum impacto no custo de financiamento dos bancos", mas cuja discussão poderá afinar esta temática. Não menos importante são os desafios associados às alterações climáticas, para os quais, apela, "os bancos têm de ser capazes de incorporar o impacto das alterações climáticas e transição climática".

Por fim elencou a tecnologia e a cibersegurança, as quais não se podem ignorar num contexto de "tensões geopolíticas associadas".

Vítor Bento diz que rentabilidade da banca é pouco atrativa

O presidente da associação que representa os bancos afirmou que a rentabilidade do sector tem sido "pouco atrativa face à rentabilidade das empresas não financeiras e por isso o valor dos bancos cotados continua aquém do seu valor contabilístico".

Vítor Bento considera que os bancos portugueses precisam de ser mais rentáveis para estarem a nível dos seus pares europeu, e afirma que em termos de concorrência, Portugal pontua bem.

O presidente da APB disse também que Portugal é um dos países europeus onde as viagens através do portal do tempo, onde os bancos são o elo do financiamento, mais potenciam o "acesso à habitação", para concluir que "grande parte das famílias portuguesas, talvez não muito longe dos dois terços, conseguiu aceder à habitação".

Coincidências existem e o facto dos 40 anos da APB estarem a ser assinalados no mesmo dia em que começou o julgamento do BES, no qual Ricardo Salgado é acusado de 62 crimes, entre os quais de associação criminosa, fez parte das perguntas dos jornalistas a Vítor Bento: hoje seria possível acontecer o que aconteceu ao BES?

Vitor Bento, que foi presidente da SIBS e também do BES antes da resolução, tinha resposta pronta: "com as condições que temos hoje, com a robustez de capital, não. Felizmente".

Criticou também o facto de aos bancos continuarem a ser cobradas "as contribuições extraordinárias, como a do setor bancário e o adicional de solidariedade". Que mais uma vez, sendo temporárias, constam do orçamento do Estado para 2025.

Vitor Bento, presidente da Associação Portuguesa de Bancos
Vitor Bento, presidente da Associação Portuguesa de Bancos NUNO BOTELHO