
"Se nós retirarmos as barreiras que impedem estes investimentos transfronteiriços, não haverá falta de fundos privados para o setor da defesa", declarou a comissária europeia para os Serviços Financeiros e União de Poupança e Investimento, a portuguesa Maria Luís Albuquerque.
No dia em que apresentou em Bruxelas uma proposta referente à nova União da Poupança e Investimento para tornar a economia da União Europeia mais competitiva, centrando-se num maior rendimento dos depósitos dos cidadãos e em mais financiamento para as empresas, a responsável apontou que a iniciativa "tem significativas oportunidades de gerar retorno positivo".
"Nós estamos aqui a falar no essencial de dinheiro privado, portanto dinheiro que pertence aos cidadãos e aos investidores institucionais, e o que nós queremos é facilitar o investimento desses fundos na Europa. E, na verdade, eu diria que a indústria da defesa, do ponto de vista de um business case, do interesse do negócio, é um caso muito claro", elencou, em resposta à agência Lusa na conferência de imprensa.
Questionada sobre se esta iniciativa será como a União de Mercado de Capitais, que visava junção dos vários existentes na União Europeia (UE) e que nunca foi concluída, Maria Luís Albuquerque disse que "não vai seguir os passos" e ficar por terminar.
"Aquilo que temos assistido recentemente são declarações muito fortes por parte dos decisores políticos da relevância de avançar com passos determinados neste processo e, na verdade, aquilo que nós constatamos - os diagnósticos são mais do que consensuais - é que estamos a perder na competitividade com os parceiros internacionais e estamos também a perder oportunidades de inovação, apesar de termos capacidade e recursos para fazer muito mais. E, portanto, não só é reconhecida a importância, mas passou a ser reconhecida a urgência".
Assim, o projeto "tem agora uma possibilidade muito mais real de avançar rapidamente", acrescentou.
A iniciativa em causa visa ligar as poupanças ao investimento mais produtivo, principalmente nas áreas prioritárias para a UE como inovação, descarbonização, tecnologias digitais e defesa.
Por isso, esta comunicação sobre uma União da Poupança e do Investimento centra-se no aumento do rendimento das poupanças dos cidadãos da UE e no alargamento das oportunidades de financiamento para as empresas.
Num contexto de tensões geopolíticas e de transição política norte-americana, a UE quer apostar na competitividade económica comunitária, razão pela qual esta é uma Comissão de Investimento e quer mobilizar um montante substancial de capital na UE, nomeadamente privado.
Dados do Banco Central Europeu indicam que, todos os anos, a UE perde 470 mil milhões de euros de investimento que não é feito na UE devido à falta de uma União dos Mercados de Capitais.
Isto num contexto em que, após a pandemia de covid-19, a UE dispõe hoje de 33 biliões de euros em poupanças privadas, predominantemente detidas em moeda e depósitos.
São estas perdas que o executivo comunitário quer colmatar, nomeadamente após os relatórios sobre competitividade da economia europeia elaborados pelos antigos primeiros-ministros italianos Enrico Letta e Mario Draghi terem defendido uma União da Poupança e do Investimento para não só manter as poupanças privadas na UE, mas também atrair recursos adicionais do estrangeiro.
ANE // MSF
Lusa/fim