No momento em que entramos em contagem decrescente para a grande festa dos 40 anos da BLITZ, na Meo Arena, em Lisboa, a 12 de dezembro – com concertos de Xutos & Pontapés, Capitão Fausto, Gisela João e MARO –, pedimos a músicos, promotores, jornalistas, radialistas e outras personalidades que vão ao baú resgatar memórias de quatro décadas de história, deixando-nos, também, uma mensagem para o futuro.

“A minha recordação mais antiga é o n.º 1 do semanário, de Novembro de 1984, com a [Siouxsie] Sioux na capa”, recorda Adolfo Luxúria Canibal, eterno vocalista dos Mão Morta. “No seguimento do punk e sobretudo do pós-punk, bem como do chamado boom do rock português, havia toda uma cultura juvenil emergente que ansiava por uma publicação que refletisse a sua voz, e o BLITZ veio suprir essa necessidade. Tinha havido o pioneiro e fugaz ‘Rock Week’, em maio de 1980, que duraria apenas uns escassos três meses, de modo que, quando surge o BLITZ, a expectativa era grande para saber se finalmente a explosão cultural em curso ia ter um porta-voz duradouro, se a identidade de uma nova geração era suficientemente forte para aguentar financeiramente um projecto jornalístico que a expressasse e unisse, e que tratasse a generalidade dos seus gostos e preocupações. O êxito do jornal veio provar que sim”.

Para o músico, o jornal BLITZ, “sobretudo sob as direcções do Manuel Falcão e do Rui Monteiro, mas também da Sónia Pereira, foi instrumento essencial para o desenvolvimento da massa crítica nacional”. “A sua panorâmica semanal sobre o meio musical não só lisboeta, mas também nacional, sobre os acontecimentos mais relevantes que ocorriam, sobre os discos, sobre os concertos, sempre com um ponto de vista crítico, firme e sustentado, foi fundamental para o crescimento e consolidação desse novo paradigma do ser músico em Portugal e do seu papel. Isto para além, claro, das novidades que veiculava sobre o mundo da música anglo-saxónica e internacional, fora do circuito mais mainstream, numa época em que a internet não existia. O BLITZ, para além da opinião crítica, era a fonte da informação", salienta. "E, como tal, todas as terças-feiras era ansiosamente aguardado”.

Adolfo explica ainda que a publicação não teve impacto só na música. “Contribuiu para o aparecimento ou sustento de muitos e bons fotógrafos, que depois seguiram o seu caminho, como a Inês Gonçalves, o Daniel Blaufuks, o Álvaro Rosendo ou, claro, a eterna Rita Carmo”, diz. “Mas também para a crítica musical, quer directamente, através da escolha criteriosa dos muitos redatores que integrou, como o Rui Monteiro, o Luís Maio, o grande chefe de redacção António Pires, o António Sérgio, o Pedro Gonçalves, a Sónia Pereira e tantos outros, quer indirectamente, pela replicação que originou em suplementos de jornais generalistas e mesmo no aparecimento de outros semanários, como o ‘LP’, todos tendo sempre como referência e modelo, para o bem e para o mal, o BLITZ”.

“Mas o seu maior contributo foi mesmo cultural, pelo incentivo à consolidação de uma cultura juvenil em Portugal, de criadores e consumidores, servindo de guia estético para as suas manifestações, sobretudo musicais, mas também de outras áreas, como a moda, o cinema ou as artes plásticas. Mas tudo isso é referente a tempos idos e o que deles ficou e fica (por enquanto) é apenas uma memória, a memória de quando o BLITZ era o BLITZ”. Questionado sobre o que deseja da BLITZ para o futuro, Adolfo Luxúria Canibal é peremptório: “O que se pode desejar de algo que já não existe verdadeiramente? Como cantava o Johnny Thunders, you can´t put your arms round a memory…”.