Qual a particularidade do cancro do pulmão de pequenas células?

O carcinoma do pulmão de pequenas células é um tumor que constitui cerca de 13% de todos os casos de cancro do pulmão. As suas células são “especiais”, não expressando os biomarcadores que estamos habituados a ver nos outros tipos de tumores malignos do pulmão, pelo que não respondem aos tratamentos dirigidos que temos disponíveis. Normalmente, é um tipo de tumor muito sensível à quimioterapia clássica e à radioterapia, mas que rapidamente adquire resistência e progride, tendo sempre um prognóstico mais sombrio.

Qual a sua prevalência e quem tem maior risco?

Em Portugal, o número de doentes diagnosticados por ano com esta doença rondará os 650. Este é um tipo de tumor muito ligado ao consumo de tabaco e a fatores tóxicos externos, como a exposição ao rádon e a asbestos. Assim, a grande maioria destes doentes são fumadores com uma alta carga tabágica e, menos frequentemente, aqueles que estiveram expostos a altas concentrações de asbestos ou ao rádon.

“Acresce que muitos dos sintomas iniciais que o tumor provoca são, em tudo, semelhantes aos que o doente já tem pelo facto de ser um grande fumador”

O diagnóstico é habitualmente tardio. Porquê?

Este, como em muitos outros casos, é um tumor silencioso, mas de crescimento rápido. Assim, quando dá sintomas, normalmente já se encontra numa fase avançada da doença. Acresce que muitos dos sintomas iniciais que o tumor provoca são, em tudo, semelhantes aos que o doente já tem pelo facto de ser um grande fumador, como a tosse, a expetoração ou a falta de ar, o que também contribui para o atraso no diagnóstico

Perante os primeiros sintomas, os doentes tendem a procurar mais o médico de família. A que sinais devem estar atentos os especialistas de MGF para que o diagnóstico seja o mais antecipado possível?

Muitos dos sintomas e dos sinais que estes doentes podem apresentar são comuns a doenças mais benignas. Mas o aparecimento e persistência de queixas ou o agravamento de um quadro pré-existente, como a tosse, a expetoração ou a falta de ar, devem ser motivo de alerta. O surgimento de expetoração com sangue (hemoptoica) ou dor no peito, bem como o desenvolvimento súbito de alteração do estado de consciência ou uma fratura de um osso provocada por um pequeno esforço, são situações que causam algum pânico ao doente e o leva a recorrer de imediato a um serviço de urgência.

Nos últimos tempos tem-se falado mais da necessidade de haver um rastreio ao cancro do pulmão. Pode também ser umas das principais medidas para não haver um diagnóstico tardio?

Evidentemente. O rastreio de base populacional de cancro do pulmão já provou que consegue fazer o diagnóstico precoce desta doença em mais 16 doentes por cada mil cidadãos rastreados e diminuir a sua mortalidade em cerca de 20%.

“A introdução de outros fármacos no armamentário terapêutico para esta doença pode permitir aumentar progressivamente a esperança de vida destes doentes”

Que tipo de tratamento existe e qual o prognóstico?

Infelizmente, o tratamento do carcinoma do pulmão de pequenas células tem evoluído muito pouco e não temos grandes fármacos que permitam personalizar o tratamento. Para os estadios precoces, a cirurgia é a melhor opção ou, se não for exequível, a realização de radiocirurgia. Nos estadios localmente avançados usamos a quimioterapia clássica (com um sal da platina e etoposideo) combinada com a radioterapia. Na doença metastizada temos utilizado a mesma quimioterapia. Atualmente, a imunoterapia veio aumentar um pouco a sobrevida deste último grupo de doentes, quando associada à quimioterapia. Mas o prognóstico continua a ser, na maior parte dos casos, desanimador.

Num futuro próximo, esperam-se novidades a nível terapêutico?

Sim. A introdução de outros fármacos no armamentário terapêutico para esta doença pode permitir aumentar progressivamente a esperança de vida destes doentes e melhorar a sua qualidade de vida. Além de estarmos a tentar otimizar a utilização da imunoterapia, têm surgido novos fármacos, como a lurbinectadina, que trazem nova esperança a estes doentes.

MJG

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