Qual a importância do médico para os idosos institucionalizados?
Os idosos institucionalizados vivem numa condição de grande vulnerabilidade, precisando sempre de cuidados específicos por causa da sua fragilidade e dependência funcional nas atividades de vida diária. Associado a tudo isto, temos a multimorbilidade e a polifarmácia. Estas pessoas merecem ter acesso aos melhores cuidados, a cuidados humanizados. E estes devem ser prestados por uma equipa multidisciplinar, coordenada por um médico diferenciado, que pode dar uma resposta adequada às suas múltiplas e diversas necessidades. Desta forma, é possível respeitar a dignidade de cada um.
Deveria ser obrigatória a sua presença nas ERPI?
Em França e na Suíça, assim como na maioria dos países europeus, nestas instituições existe o apoio contínuo de médicos da comunidade e em cada uma há um médico geriatra que gere os cuidados prestados por uma equipa multidisciplinar.
“Estudos epidemiológicos demonstram que, nas ERPI, 90% dos seus residentes sofrem de malnutrição, sarcopenia e fragilidade”
E por que deve ser um geriatra?
O médico geriatra conhece bem as particularidades dos idosos e devia ser presença obrigatória nas ERPI. Estas instituições deveriam ser um local acolhedor, que permitisse a quem não pode viver em casa, ter qualidade de vida. Como se sabe, estes idosos são institucionalizados porque sofrem de múltiplas doenças graves. Estudos epidemiológicos demonstram que, nas ERPI, 90% dos seus residentes sofrem de malnutrição, sarcopenia e fragilidade. Acrescem ainda dois terços com problemas cognitivos, mais de 50% têm incontinência urinária, combinada ou não com incontinência fecal, e 2 a 10% apresentam úlceras por pressão e escaras por estarem acamados.
Tudo isto contribui para a polifarmácia, cuja gestão é complexa, apesar de essencial para se evitar uma maior deterioração do estado de saúde dos utentes por causa dos efeitos adversos dos fármacos. Muitos deles perdem também a capacidade para realizar as atividades mais básicas da vida diária. De acordo com os mesmos estudos, um terço dos residentes necessita de assistência para todo o tipo de tarefas; dois terços para irem à casa-de-banho; dois terços para se vestirem; e quatro quintos para tomarem banho.
Além disso, não podemos esquecer-nos de algo muito importante nos cuidados de saúde: o respeito pela dignidade das pessoas, o controlo da dor e de outra sintomatologia, a preparação de um plano avançado de cuidados e os cuidados de fim de vida com os numerosos dilemas legais e éticos que lhe estão subjacentes. Face ao exposto, tem que ser o geriatra a coordenar uma equipa multidisciplinar por ser um especialista que conhece bem as particularidades dos idosos mais vulneráveis.
Já se dedica à Geriatria há muitos anos. Que mensagens-chave gostaria de deixar aos profissionais de saúde portugueses?
Estou, de facto, envolvido, por opção, na Medicina geriátrica há mais de 40 anos. A Geriatria não é uma subespecialidade da Medicina, mas a um ‘supra’ especialidade, que exige uma visão holística dos doentes e cuidados integrados específicos para a sua condição e idade. E, obviamente, nunca se pode esquecer a abordagem humanista quer de utentes quer de familiares. É uma área fantástica que vai influenciar bastante a Saúde no futuro.
MJG
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