No Centro de Portugal, a Páscoa, uma das principais festas do cristianismo, é comemorada de forma intensa. É altura de viver com grande fervor, seculares tradições quaresmais. Em muitos casos, é uma das épocas mais aguardadas do ano. É tempo de união da família e dos amigos, e de desfrutar de momentos especiais que nos renovam. Ocorrendo na semana anterior à Páscoa, a Semana Santa inicia-se este ano no domingo, dia 13 de abril e é, como sempre, marcada por procissões e celebrações religiosas, como a Procissão do Senhor dos Passos e por encenações da paixão e morte de Jesus Cristo.

Antigamente, nesta mesma semana, vivia-se uma particular azáfama à volta dos fornos dos lares da região. Após um período de grande jejum de 40 dias, conhecido como a Quaresma, era cozido o folar, pão doce tradicional.

Geralmente com ovos cozidos no topo, o folar era oferecido como presente pelos padrinhos aos seus afilhados no Domingo de Páscoa, até ao ano em que estes se casassem. Este típico folar tinha mais ou menos ovos, consoante as posses do padrinho ou a idade do afilhado. O último folar poderia ter 12 ou mais ovos cozidos, havendo a tradição de dizer que tinha o tamanho “da roda de um carro”. Ainda hoje, em muitos lugares, se mantém esta tradição. E também, nalgumas localidades, se perpetuam outros costumes. Decoram-se ruas inteiras e praças com tapetes de flores e verduras que refletem o empenho das comunidades. No interior das igrejas e capelas onde decorrem missas solenes e concertos alusivos à época, se criam verdadeiras obras de arte.

E é no Domingo de Páscoa, que se comemora em 2025, a 20 de abril, imediatamente a seguir ao Domingo de Ramos, que as famílias se reúnem para momentos de genuína partilha e alegre convívio. É comum a preparação e consumo de pratos típicos desta época, como o cabrito assado, anho ou cordeiro, e o folar de carne, o folar doce, o pão de ló (ou pão leve), a aletria, o arroz doce, os ovos de chocolate, as amêndoas, entre outras tantas iguarias.

A Páscoa é uma festa de renascimento que simboliza a ressurreição de Jesus Cristo e a vitória da vida sobre a morte, por isso, é entendida por muitos, como uma oportunidade para renovar os votos de amor e amizade, e para celebrar a vida e a esperança!

PAULO JORGE DE SOUSA

Senhor dos Passos para “cagaréus” e “ceboleiros”

Na região de Aveiro sobressai curiosamente, na própria cidade dos Moliceiros, a existência de dois Senhores dos Passos. Diz-se que certo dia, os “cagaréus”, conjurados foram a S. Domingos, atual Sé Catedral, raptar uma velha imagem usurpada do Senhor dos Passos, restituindo-a ao real altar no templo Carmelitano, neste caso correspondente à atual Igreja do Carmo. Em resposta, os “ceboleiros” responderam à provocação com uma escultura do Senhor, concebida por Carlos Leituga, da autoria do escultor portuense António Teixeira Lopes, que pode ser admirada numa das capelas laterais da Sé Catedral. Outros tesouros do início do século XX podem ser visitados, nomeadamente os 13 pesados andores, no núcleo museológico das Igrejas Geminadas de Santo António e de São Francisco, e que eram levados na procissão de Quarta-feira de Cinzas, e que, durante muitos anos, era uma das maiores em Portugal. O próprio conjunto arquitetónico das Igrejas Geminadas, classificado como Monumento Nacional, merece uma visita, com decorações em talha dourada, azulejos e frescos. Em Aveiro são momentos fortes, nos quais participam muitos cristãos e turistas, o Tríduo do Senhor dos Passos e o Tríduo Pascal.

TRADIÇÕES E EVENTOS DA PÁSCOA NA REGIÃO DE AVEIRO

Nuno Conceição

No Médio Tejo, que integra 11 concelhos, além da beleza natural de uma região que integra as Serras de Aire Candeeiros e extensa rede hidrográfica da bacia terciária do Tejo-Sado, com nascentes, ribeiras, piscinas naturais e albufeiras, há, naturalmente, tradições pascais que se diferenciam. É o caso do Sardoal em que os Tapetes de Flores Naturais decoram igrejas e capelas, não apenas da Vila, mas também das aldeias do concelho. São feitos à base de pétalas de flores e verduras naturais, com desenhos alusivos à época. Começam a ser preparados na quarta-feira, mas a tarefa prolonga-se pela noite dentro, envolvendo toda a comunidade. Trata-se de uma tradição que se julga já existir com grande esplendor no século XIX e uma das iniciativas mais emblemáticas das celebrações da Semana Santa e Páscoa em Sardoal, atraindo milhares de visitantes.

TRADIÇÕES E EVENTOS DA PÁSCOA NO MÉDIO TEJO

Expresso

Tradições gastronõmica na Região de Leiria

Em Porto de Mós, concelho da região de Leiria, as tradições gastronómicas ganham peso. Nesta Páscoa acontece VI edição do Festival do Cabrito e do Borrego de Porto de Mós, Serras de Aire e Candeeiros, nos dias 11, 12 e 13 de abril assim como a 18 e 19 de abril nos restaurantes aderentes do concelho. Em simultâneo, até dia 19 de abril, há Festival do Folar e da Amêndoa Artesanal, uma iniciativa que tem lugar no jardim municipal e procura incentivar a produção dos folares da Páscoa e amêndoas de forma a motivar o uso de ingredientes locais e tradicionais para manter a autenticidade. As celebrações da Semana Santa em Porto de Mós têm início no Domingo de Ramos, com a recriação da entrada de Jesus em Jerusalém, onde se destaca o tapete de flores, semelhante à tradição do Sardoal, que, neste caso, decora a Ponte de São Pedro e adorna a recriação da entrada de Jesus em Jerusalém. Toda a população participa nas recriações como figurante, ou na elaboração do tapete florido, ou apenas assistindo às cerimónias e encontros culturais que integram o programa.

TRADIÇÕES E EVENTOS PÁSCOA NA REGIÃO DE LEIRIA

PAULO JORGE DE SOUSA

Concelhos de Coimbra “sarram a velha” e “enterram o bacalhau”

Tradição antiga é o “’Sarrar da Velha”, que ainda se realiza a meio da Quaresma na freguesia de Cadima, concelho de Cantanhede, região de Coimbra. Também designada “Sátira aos Avós” e consiste em fazer uma enorme algazarra na casa das pessoas de mais idade, com gritos, ladainhas, mas sobretudo serrotes em madeira com que se “serravam” as portas, bem como funis, búzios e outros apetrechos. As vítimas que não gostam de ser apelidadas de “velhas” costumam lançar objetos aos “sarradores”, em tipos idos, usavam o conteúdo dos penicos. Esta atividade é dinamizada por um grupo de homens, maioritariamente pertencentes ao Grupo Típico de Cadima, embora também se formem grupos noutros lugares como o Zambujal. Já na localidade de Fornos, também na freguesia de Cadima, no sábado de Aleluia, antes do domingo de Páscoa, realiza-se a Queima do Judas depois de caída a noite. Com muitos anos de tradição, simboliza a purificação através do fogo. A encenação repete-se, mas a figura caricaturada depende dos acontecimentos do ano. Na cidade de Coimbra em si, o Rancho Folclórico “As Moleirinhas da Casconha” recriam, na Sexta-Feira Santa, o Enterro do Bacalhau, um cortejo fúnebre, que ironiza o fim da obrigatoriedade de comer peixe em tempo de Quaresma. É recriado um cenário de tribunal que inclui juiz, oficial, delegado, testemunhas de defesa, a pescadinha marmota e pescadinha rabitesa, e testemunhas de acusação que são o galo, mestre Zé vitelo e porco. Os testemunhos apresentam-se todos em verso. Aparecem ainda as personagens que são a Quaresma, defensora do bacalhau, carpideiras e a Páscoa. No final há uma contradança, com uma coreografia que conta com a ajuda de uma cana da índia, onde são entrelaçadas oito fitas de cores diferentes e que depois se vão desentrelaçando. Na Figueira da Foz também há Enterro do Bacalhau, neste caso na Praça 8 de Maio, e que consiste numa peça de teatro de rua, um cortejo “fúnebre”, feito ao jeito de paródia, com um bacalhau gigante e carpideiras que gritam pelo defunto “fiel amigo”. As personagens fazem cinco paragens, pela Rua da República, Mercado Municipal, Casino, Praça Nova e Rua da Restauração. Por tradição, o Enterro do Bacalhau realiza-se na véspera do Domingo de Páscoa.

TRADIÇÕES E EVENTOS DA PÁSCOA REGIÃO COIMBRA

Expresso

A maior e mais impressionante Queima do Judas de Portugal

Tondela, concelho situado na região Viseu Dão Lafões, cuja magnífica ecopista de 115 quilómetros tem estado nas bocas do mundo, reclama para si a maior e mais impressionante Queima do Judas que se realiza em Portugal”. Durante alguns anos, a tradição manteve-se e, à saída da missa, no Sábado de Aleluia, um boneco feito de palha e trapos velhos queimado junto à Igreja Matriz de Tondela. Hoje é um espetáculo comunitário que conjuga teatro, a dança, a música e o fogo-de-artifício. Desde 1987, Judas tem ardido sob a batuta da Associação Cultural e Recreativa de Tondela, pouco antes da meia-noite de Sábado Aleluia, num espetáculo ao ar livre, coreografado, cantado e com uma narrativa que percorre o ano que passou e lhe aponta os maus bocados. No fim, as chamas devoram o Judas, por entre fogo-de-artifício e a festa faz-se ao som dos músicos e atores acompanhados pelo público.

TRADIÇÕES E EVENTOS DA PÁSCOA EM VISEU DÃO LAFÕES

PAULO JORGE DE SOUSA

Páscoa gastronómica na região Beiras e Serra da Estrela

Em todo o concelho da Covilhã, na região das Beiras e Serra da Estrela, há tradições seculares que marcam a Páscoa. O folar é feito com canela e erva-doce, enfeitado por um ou vários ovos cozidos. Para além do folar, confecionam-se Empanadilhas da Páscoa, pastéis em forma de meia-lua, recheados de nozes e amêndoas, assim como os Esquecidos, conhecidos igualmente na região como broinhas, e os biscoitos de azeite. No âmbito religioso, as procissões quaresmais na cidade são tão ancestrais como a própria existência da Santa Casa da Misericórdia da Covilhã, entidade responsável pela organização das mesmas desde o início do século XVII. A Procissão do Enterro do Senhor marca a Sexta-feira Santa, no dia 18 de abril, pelas 21h00. Na Aldeia do Xisto de Sobral de São Miguel, acontece o concerto “Cantos de Misericórdia e Paixão”, organizado em parceria com a Casa do Povo do Paul, e que abre a programação pascal no dia 13 de abril. As comemorações incluem a tradicional Procissão dos Penitentes, a decorrer nos dias 17 e 18 de abril. Após a meia-noite, sai do adro da igreja, o grupo de Penitentes, envolvidos em lençóis brancos e com uma coroa de ramos verdes na cabeça, deambulam pelas ruas da aldeia, repetindo um ritual de ladainha em diversas paragens.

TRADIÇÕES E EVENTOS DA PÁSCOA NA REGIÃO BEIRAS E SERRA DA ESTRELA

Expresso

Procissão com mais de 400 anos

Na região Oeste, destaca-se a Semana Santa de Óbidos, de 12 a 20 de abril, em que um dos pontos altos das celebrações é a Procissão do Senhor dos Passos, uma das mais antigas de Portugal, com mais de 400 anos de história. Percorre as ruas da vila num cortejo marcado pela fé e pela devoção. À semelhança dos anos anteriores, o programa inclui uma componente cultural como um conjunto de concertos de música clássica de temática sacra, que têm lugar no Santuário do Senhor Jesus da Pedra, um dos templos barrocos da região. Coros, concertos e exposições de entrada gratuita brindam todos aqueles que se deslocarem a esta vila durante a Semana Santa. Admire as decorações que simbolizam este período de festejos religiosos desde a grande Cruz de Cristo que volta a dar as boas-vindas à entrada da vila às colchas que se exibem nas janelas na Rua Direita, passando pela iniciativa dos Tapetes de Flores e Sal, levada a cabo com grupos de voluntários do concelho e que este ano apela à participação de todas as freguesias no sentido de criar aquilo que são consideradas autênticas obras de arte que embelezam espaços emblemáticos.

TRADIÇÕES E EVENTOS DA PÁSCOA NO OESTE

Nuno Conceição

Cantar as almas na aldeia de Vergão

A 11 de abril, com encontro marcado para as 21h00, são seis os grupos das aldeias do concelho de Proença-A-Nova, na Região da Beira Baixa, que mantêm viva a tradição de cantar as almas, um rito da cultura popular muito antigo, que mistura ritos cristãos e pagãos, conservados ao longo de séculos pela devoção popular. Este ano, a aldeia anfitriã deste ritual é o Vergão, mas também conta com a participação das aldeias de Atalaias, Corgas, Cunqueiros, Chão do Galego e Galisteus e um grupo convidado, este ano vindo de Zebreira (Idanha-a-Nova). Este rito crê-se remontar ao século X, está associado ao culto dos mortos, sendo feito no período da Quaresma, tradicionalmente a altas horas da noite. É suposto os cânticos tristes serem ouvidos sem que quem canta seja visto. O objetivo é contribuir, pelo meio de preces, para aliviar as penas às almas que estão no Purgatório. A utilização de roupa negra significava o luto pelos mortos e o “preceito” do tempo quaresmal. Como curiosidade, apenas na aldeia de Corgas a oração é feita sem falhas todas as noites ao longo da Quaresma. Atalaias, Corgas e Galisteus fazem a encomendação das almas com letras e músicas muito distintas, enquanto Chão do Galego e Cunqueiros cantam as “excelências”, com uma letra muito idêntica. No Chão do Galego canta-se ainda o “Nome de Maria” e o “Hino a Santa Iria” e as Corgas têm músicas exclusivas do final do período quaresmal. A participação é livre para quem quiser assistir a este ritual.

TRADIÇÕES E EVENTOS DA PÁSCOA NA BEIRA BAIXA


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