Se está no Portinho do Canal, situado um pouco a norte de Vila Nova de Milfontes, mais precisamente a cinco minutos de carro desde o Forte de São Clemente, provavelmente terá aí chegado atraído pela cozinha do restaurante Porto das Barcas (Tel. 283997160), localizado no final da marginal. Famosa pelo pôr-do-sol, a paisagem não deixa ninguém indiferente. Depois de apreciar o monumento “Liberdade”, da autoria do escultor Walter Pires, e o imenso oceano, descobre-se o colorido das embarcações amaradas. Descendo até aos abrigos de pescadores, percebe-se o emaranhado de redes, onde uma ou outra gaivota ainda tenta a sorte. Nos barcos alguns pescadores fazem verificações. Este será o primeiro de quatro portos de pesca artesanal que pode visitar no concelho de Odemira.

Portinho de pesca da Entrada da Barca, na Zambujeira do Mar
Portinho de pesca da Entrada da Barca, na Zambujeira do Mar Isabel Vilhena / CM Odemira

A pesca é atividade de tradição antiga por aqui. Já no século XIX se encontravam na orla costeira do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina algumas pequenas povoações piscatórias. Foi solução para subsistir quando não havia trabalho no campo.

A frota de pesca local reflete e continua essa tradição. Identifica-se de grosso modo com a realidade nacional, onde prevalecem as embarcações de boca aberta e casco de madeira, com dimensões médias inferiores a nove metros. Símbolos vivos da tradição e da forte ligação de Odemira ao mar, para além do Portinho do Canal, em Vila Nova de Milfontes, a costa deste município alentejano, guarda ainda a Lapa de Pombas, em Almograve, a Entrada da Barca, na Zambujeira do Mar e o portinho da Azenha do Mar.

Portinho do Canal
Portinho do Canal Luís Guerreiro / CM Odemira

A pesca acontece sobretudo no verão porque os portos e as embarcações não têm condições de operacionalidade sem bom tempo. A atividade piscatória é muito seletiva. Recorrem ao aparelho de linha, aparelho de anzol, rede de emalhar, armadilhas e mariscagem. Devido a estas formas de pesca, o peixe mantém a carne quase intacta, oferece elevado grau de frescura e estes atributos fazem toda a diferença no prato. Entre as espécies mais apreciadas e valorizadas estão o sargo, a dourada, o robalo, congro ou safio, safia, pata-roxa, pampo, abrótea, besugo, búzio e polvo. No restaurante Porto das Barcas, a responsável pelo restaurante, Sofia Cabecinha, conta que “os peixes são tão fantásticos que chegamos a comer douradas cozidas à posta em casa, tal é dimensão e qualidade”. O mesmo acontece com os crustáceos, igualmente muito apreciados por quem visita a costa alentejana, com destaque para as navalheiras e os perceves.

Portinho de pesca de Lapa das Pombas
Portinho de pesca de Lapa das Pombas Luís Guerreiro / CM Odemira

Lapa das Pombas, portinho da enseada panorâmica

Rume ao sul até à Praia de Almograve, deixe o automóvel e caminhe até ao Porto da Lapa das Pombas, ida e volta são 4km. Vai encontrar um pequeno, mas dinâmico portinho, que mesmo sem lota, deixa observar com grande frequência o entra e sai dos barcos. Fica localizado na freguesia de Longueira/Almograve e a envolvente, com rochas de formatos diversos que rodeiam a enseada e fazem deste local um ponto panorâmico. A geomorfologia deste recanto muito particular da orla costeira, pode ser apreciado de forma ainda mais intensa no percurso dunar sugerido pela Rota Vicentina (Tel. 283327669) que dá oportunidade de conhecer a Foz dos Ouriços, notável neste campo, entre dobras, falhas, discordâncias e extensas redes de filonetes de quartzo que permitem perceber a história do planeta nos últimos 300 Ma. Esta caminhada representa uma oportunidade para conhecer a dicotomia do Almograve, de um lado as delicadas dunas e do outro as rochas. A flora dunar é rica e perfumada – alecrim, rosmaninho, camarinheira, murta, aroeira, perpétua-das-areias e tomilho canforado. Com temperaturas elevadas, caso faça este passeio no verão, opte por madrugar.

Portinho de pesca da Entrada da Barca
Portinho de pesca da Entrada da Barca Luís Guerreiro / CM Odemira

Entrada da Barca, a caminho da Zambujeira

A génese do povoamento rural da Entrada da Barca, junto à popular Zambujeira do Mar, está associada à presença de pescadores. Aqui perto há dois restaurantes onde o peixe e marisco são os ingredientes principais: o Restaurante O Sacas (Tel. 283961151) e A Barca Tranquitanas (Tel. 283961186). A Entrada da Barca dispõe de lota com leilão do peixe que permite a estes restaurantes, situados a escassos metros de distância, comprar o pescado acabadinho de sair do mar para o servir às suas mesas. Enquanto visitamos Miguel Reis, terceira geração à frente do restaurante A Barca Tranquitanas que este ano comemora meio século de existência, explica que, um pouco antes do almoço, dá-se um salto à lota, usualmente perto do meio-dia, de segunda a sexta-feira, para licitar e conseguir o melhor peixe, uma licitação que costuma ser renhida. Na ementa do restaurante não faltam os filetes de pampo, os perceves da Entada da Barca e peixes variados para grelhar. O perceve é o marisco mais característico e que mais valor gera quando se fala de mariscagem em Odemira e são vários os profissionais licenciados para a apanha destes animais marinhos no concelho.

Portinho de pesca da Azenha do Mar
Portinho de pesca da Azenha do Mar Luís Guerreiro / CM Odemira

Azenha do Mar, uma varanda para o azul

Mais a sul, na povoação de Azenha do Mar desça a escadaria de madeira até ao pitoresco porto de pesca. A vegetação pode parecer densa, mas são apenas alguns segundos até voltar a ver o mar. Tem panorâmica a perder de vista sobre o oceano. No Café Palhinhas (Tel.960437312), com localização privilegiada, pode tomar uma bebida e deixar-se ficar na contemplação. Em pleno portinho assiste à preparação das armadilhas, chegada e partida dos barcos e aos cumprimentos bem-dispostos dos pescadores, numa linguagem que, muitas vezes, só eles percebem. Estão disponíveis para dois dedos de conversa enquanto as mulheres de alguns ajudam em pequenas tarefas. Em conversa dizem que “se pesca bem por aqui, bom peixe, e que os restaurantes só procuram o melhor, o robalo, a dourada, porque esta não é zona de sardinha”. Já não se fazem petiscarias entre eles com tanta frequência. A maioria dos pescadores leva para casa aquilo que não vende na lota, que funciona no Porto da Azenha do Mar, mas de forma bem mais reduzida do que na Entrada da Barca. Não perca a oportunidade de saborear o bom peixe e marisco, com destaque para os perceves no restaurante A Azenha do Mar. Deixe-se ficar até ao entardecer para apreciar o sol a pôr-se sobre o grande azul. Presentemente exercem atividade nos quatro portos de pesca do concelho cerca de 150 pescadores, para uma frota de 75 embarcações, que se dedica à pesca artesanal e mantém as características das embarcações mais antigas - de pequenas dimensões, boca aberta e casco de madeira.

Costa do Cavaleiro no Cabo Sardão
Costa do Cavaleiro no Cabo Sardão Luís Guerreiro / CM Odemira

Cabo Sardão, um lugar de força e beleza naturais únicas

Entre Almograve e a Zambujeira do Mar fica o ponto mais ocidental da costa alentejana, guardado por um farol, sentinela do Cabo Sardão. Podíamos ficar horas a olhar este cenário. Não é possível ficar indiferente perante às imponentes escarpas cavadas a pique em direção a um mar possante e ao mesmo tempo sereno, ou confrontado com um horizonte de planícies infindáveis, cobertas por uma vegetação rasteira e verdejante.

Se existe lugar para encher os pulmões e sentir o cheiro da brisa, é aqui. No único lugar no planeta onde as cegonhas decidiram nidificar sobe o mar. Com os devidos cuidados é fácil identificar os ninhos da cegonha-branca nas impressionantes falésias. Não são habitantes únicas. Pode admirar os veios cravados nas paredes rochosas, as ilhotas semeadas aqui e ali ao longo da costa, e avistar, para além dos muitos casais de cegonha-branca, falcões-peregrinos e as respetivas crias, gralhas-de-bico-vermelho e, mais raramente, francelhos.

Ninho de Cegonha-branca na falésia
Ninho de Cegonha-branca na falésia Luís Guerreiro / CM Odemira

O Cabo Sardão é um sítio de passagem ao longo da estrada costeira que liga Almograve à Zambujeira. Para lá chegar, passa pela aldeia do Cavaleiro, onde a pesca à linha do sargo tem presença constante e os percebes têm mais sabor. Pode caminhar até ao imponente farol, construído em 1915, com uma torre de 17 metros de altura, quadrangular de alvenaria e com lanterna cilíndrica vermelha. Para o conhecer por dentro, marque uma visita guiada através do email dfarois.rp@amn.pt. Pode jogar futebol no campo com vista para o mar que ladeia o farol. Fique até pôr-do-sol e, ao anoitecer, aprecie o céu ultra estrelado graças à ausência de luzes urbanas.

Farol do Cabo Sardão
Farol do Cabo Sardão João Mendes

Pode saber mais sobre estes e outros destinos na página do Turismo de Odemira.

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