Escrever sobre a importância do papel da mulher na gestão em Portugal é, de facto, um desafio que envolve várias dimensões históricas, sociais e económicas. Este tema não só exige compreensão profunda das transformações culturais e legislativas que ocorreram após o 25 de Abril como requer uma análise crítica dos dados contemporâneos que refletem o progresso e os desafios persistentes.
É verdade que o fim da ditadura em Portugal, iniciou uma nova era de liberdade e democracia e empowerment às mulheres, apesar de um longo caminho que tem vindo a ser conquistado, e o processo de democratização abriu caminho a uma maior igualdade de oportunidades, permitindo que as mulheres não só ocupem posições de mudança política e empresarial como de gestão.
A Constituição de 1976, porventura foi a pedra basilar da mudança de paradigma em Portugal ao consagrar a igualdade de género, tendo sido um marco na promoção dos direitos das mulheres; e a partir deste momento assistimos com positivismo a uma gradual ascensão das mulheres em todos os quadrantes da sociedade. Mas apesar das mudanças legislativas — como a introdução de quotas de género —, as disparidades, a desigualdade salarial e a subrepresentação em cargos de liderança, ainda são significativas. Os dados mostram que apenas 30% dos cargos de gestão em Portugal são ocupados por mulheres, segundo um estudo da Informa D&B mencionado pela Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG/2024).
É necessário, neste enquadramento, realçar o papel de monitorização e avaliação da CITE em Portugal (Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego). Tendo um papel crucial na avaliação e promoção da igualdade de género no mercado de trabalho, incluindo a avaliação do desempenho das mulheres desde que foi criada, em 1979, esta entidade é interessante porque permite ter representantes do governo, empregadores e trabalhadores e assegurar os princípios de igualdade e não discriminação entre homens e mulheres no local de trabalho, mas o seu papel é mais amplo para criar uma cultura corporativa inclusiva, apesar de os dados estatísticos demonstrarem que o caminho ainda é longo na nivelação de oportunidades e cargos.
O barómetro das diferenças remuneratórias entre homens e mulheres é sem dúvida uma ferramenta útil na compreensão de algumas dimensões que permitem ter reflexões mais profundas sobre o caminho percorrido e ainda a ser caminhado. Os dados da 6.ª edição de 2024 tem por base os quadros do pessoal de 2022, recolhidos em 2023. Este utiliza a fórmula do “Gender Pay Gap” – GPG ou, em português, disparidade salarial de género. Assim constatamos que, na remuneração média base, temos um GPG de 13,2% (1049,8 euros nas mulheres vs. 1209,70 euros nos homens), mas esta diferença tem vindo a diminuir desde 2010, quando o GPG se situava nos 17,9%.
Embora os progressos sejam evidentes, apesar de ténues, a trajetória para a igualdade plena ainda é longa. É fundamental continuar a promover políticas que incentivem a presença feminina em todos os níveis de gestão e que abordem as disparidades salariais e de oportunidades. A sustentabilidade do desenvolvimento económico e social em Portugal depende da inclusão efetiva e igualitária das mulheres no mercado de trabalho, especialmente em posições de liderança.
A inclusão e participação feminina na gestão em Portugal e no mundo é crucial em várias dimensões, apesar do enquadramento mais pragmático acima, que demonstra um processo mais lento, e de termos imensos casos de enorme sucesso de mulheres em Portugal no ensino, na investigação, na gestão empresarial. A inclusão e participação das mulheres na gestão em Portugal tem um cariz reformador e de inovação. Inúmeros estudos demonstram que a diversidade de género em cargos de liderança contribuiu para decisões mais equilibradas e inovadoras, sendo que as empresas com maior diversidade possuem ou possibilitam melhores desempenhos financeiros e maior capacidade na adaptação a mudanças as dinâmicas globais económicas e sociais.
Em outro paradigma promovem a equidade social, ou seja, a igualdade de género na gestão é acima de tudo uma justiça social, porque aumentar a participação feminina em posições de relevo contribui para a redução das desigualdades de género, promove o desenvolvimento sustentável e fortalece a coesão social.
Por último e não menos importante, existe uma dimensão holística que nunca deve ser esquecida: a liderança e a capacidade de inspiração. O papel da mulher em cargos de gestão em Portugal serve de modelo para as futuras gerações, incentivando outras mulheres a aspirarem posições de liderança ou empreendedorismo e contribuindo para a mudança cultural em direção à igualdade.
Neste âmbito, poderia salientar a capacidade inspiradora de mulheres que admiro e inspiraram não só mulheres como homens a lutar pelos seus sonhos e ambições: Amália Rodrigues , Michelle Obama, Maria de Lourdes Pintasilgo, Amélia Santos, Ana Pedrosa Augusto, Margaret Thatcher, Marta Mariz, Isabel Furtado, Paula Amorim, Maria João Pires, Joana Vasconcelos, Leonor Beleza, Isabel Jonet, Sofia Tenreiro, Lídia Jorge... a lista seria muito longa mas estes são alguns dos nomes que tenho como referência. Bem hajam pela forma como inspiram as pessoas com o seu carisma, conhecimento e capacidade de trabalho em cada área de trabalho empresarial, social, político ou cultural.
Em suma, o desempenho exemplar na aposta na formação académica e as mudanças sociais pós-revolução dos cravos possibilitaram o progresso social e económico das mulheres em Portugal, aliando-se à sua resiliência e capacidade de trabalho na gestão, mas no atual momento lamento que ainda estejamos a comentar as desigualdades entre homens e mulheres. Era tempo de falarmos do mérito como ascensão na gestão e garantir a inovação e a criatividade, porque se assim fosse não seriam necessárias quotas para garantir a presença de mulheres em lugares de topo. Existiram progressos enormes mas o caminho faz-se caminhando.
Um bem haja a todas as MULHERES que lutam por um mundo melhor e por garantir que o caminho para a ascensão social e económica é a meritocracia, por um mundo mais justo e inclusivo.