A inovação sempre foi o motor do desenvolvimento económico e social das sociedades. E afigura-se tanto mais necessária quanto mais é percebido o clima concorrencial do ambiente de negócios em que as empresas atuam. Mas, numa era em que o conhecimento científico e a tecnologia são disseminados à escala de uma audiência global e ambos são pensados como indissociáveis das metas do desenvolvimento sustentável, a inovação adotou progressivamente um modelo aberto, baseado no capital criativo dos indivíduos externos à empresa.
O modelo de inovação aberta descreve a inovação empresarial como resultado da interação da empresa com os atores do seu ambiente de proximidade, incluindo empresas concorrentes, fornecedores, universidades e centros de investigação, agências financiadoras ou quaisquer outros agentes voluntários, como clientes ou consumidores em geral. Assume o pressuposto de que as fontes de criação de valor não se encontram, nem necessariamente nem apenas, no interior da empresa, e que é da deteção e integração nos processos organizacionais dos contributos potencialmente mais criativos que nasce a vantagem competitiva da empresa.
A eficaz implementação do modelo de inovação aberta é possível na condição de os empresários prestarem continuada atenção às dinâmicas de mercado, hoje moldado pelas contribuições criativas dos consumidores e a que a Internet veio dar potencial exposição global. Com efeito, ao tornarem-se participantes ativos nos processos de inovação empresarial, atuando como fontes externas de conhecimento e experiência, os consumidores constituem-se hoje como uma fonte de poder capaz de influenciar a tomada de decisão da gestão. Desenvolvimento de produtos, processos ou ideias de negócio decorre da colaboração dos consumidores nas atividades de I&D por efeito de uma oportuna combinação entre a sua capacidade de conceber novas ideias e a utilização competente e versátil das tecnologias digitais, assim como da sua motivação para dialogar com as empresas. Veja-se, por exemplo, o caso da LEGO, marca mundialmente conhecida no sector dos brinquedos e reconhecida como exemplar e líder na adoção de um modelo de inovação aberta assente na cocriação de valor pelo consumidor. Ou o da SWAROVSKI, marca de elevada notoriedade na área das joias e peças decorativas em cristal.
Mas a inovação já não pode ser procurada pelas empresas à margem dos objetivos do desenvolvimento sustentável, os quais, além dos económicos, abrangem os sociais e os ambientais. E, na realidade, é da parte dos consumidores, como também dos agentes governamentais e das ONG, que vêm as pressões mais fortes para as empresas realinharem os seus processos de produção de acordo com uma perspetiva de sustentabilidade. Assim, as empresas prometem agora uma inovação que atende ao desempenho organizacional numa ótica de sustentabilidade, deixando para trás a visão de que ela se atinge à custa da renúncia da rentabilidade do negócio. Apesar disso, é este um desafio que ainda se coloca aos gestores que persistem na crença da separação inevitável entre rentabilidade empresarial e sustentabilidade.
A gestão inclusiva da sustentabilidade carece dessa mudança de mentalidade que vê na abertura à sociedade o potencial de captação de recursos essenciais à criação de conhecimento útil. A disponibilização à sociedade de produtos e soluções sustentáveis para problemas complexos e multifacetados é fruto de atividades e processos que ultrapassam a capacidade interna de uma empresa, pelo que o modelo de inovação aberta se posiciona como aquele capaz de agregar as competências e vontades dos vários atores sociais. As empresas fazerem mais e melhor em prol de um mundo sustentável dependerá cada vez mais da adoção de estratégias organizacionais centradas no consumidor-utilizador. Para tal, ser-lhes-á fundamental a compreensão das dinâmicas que caracterizam estes atores sociais e o que os mobiliza para cocriarem inovação sustentável com as empresas. Este é o ponto de partida para caminharem na implementação dos ambientes colaborativos favoráveis a essa inovação.
Professora Auxiliar da Faculdade de Economia e investigadora do Cinturs, Research Centre for Tourism, Sustainability and Well-being, Universidade do Algarve