O ano de 2025 será um marco significativo em África: meio século de independência para quatro dos cinco países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP). Um aniversário que nos convida a refletir não apenas sobre conquistas, mas também sobre fracassos e oportunidades perdidas.
No campo da aviação, o cenário é desolador. Apesar de algumas infraestruturas modernas, muitos aeroportos destes países permanecem em condições precárias, com pistas de terra batida, instalações básicas e sem movimentos. Este atraso não pode ser atribuído unicamente à herança colonial ou à "juventude" das nações; trata-se, acima de tudo, de uma questão de má gestão pública, de corrupção e de total ausência de uma classe média e de um tecido empresarial relevante. Exemplos de enriquecimentos ilícitos envolvendo o setor aeronáutico abundam em todos eles, mas Moçambique destaca-se como tendo sido o único país a levar à barra da justiça alguns desses casos.
Enquanto isso, os PALOP continuam estranhamente desconectados entre si. Em contraste com os países africanos anglófonos e francófonos, que possuem redes aéreas regionais bem desenvolvidas e muitas empresas aéreas privadas, a maioria das ligações entre os PALOP ainda depende da companhia pública TAP e de voos de ligação com escala no hub de Lisboa. Uma dependência que perpetua uma relação desatualizada de subserviência pós-colonial. De facto, nos tempos coloniais dos aviões a hélice, como o Skymaster ou o Super Constellation, as escalas tecnicamente obrigatórias dos voos da TAP nas várias capitais ultramarinas criavam uma malha de conexões diretas e práticas entre todos os territórios. Hoje, com avanços tecnológicos e aviões mais modernos, essa rede foi desfeita.
Do outro lado do Atlântico, a maior nação lusófona é uma ausência notável nos PALOP. Se a icónica VARIG chegou a operar voos para Angola, Moçambique e Cabo Verde até aos anos 90, hoje nenhuma companhia brasileira liga o Brasil aos PALOP e a única presença de uma companhia brasileira no continente africano limita-se à África do Sul. Com a independência, os PALOP investiram e investem em companhias aéreas nacionais deficitárias, falidas, e em infraestruturas que servem mais para "alimentar" contratos obscuros e desvios de fundos do que para ligar efetivamente e servir com eficiência os seus povos.
Lomé, capital do Togo, surge como um contraponto a este quadro. Um pequeno país com recursos limitados transformou-se num modelo de eficiência e pragmatismo. Graças a uma parceria estratégica com a Ethiopian Airlines, a maior companhia de África, nasceu a Asky e Lomé tornou-se um hub regional com voos para mais de 30 cidades africanas – um verdadeiro recorde no continente – para além de voos diretos para Washington, Nova Iorque, Paris e Bruxelas. E é justamente Lomé, logo a seguir a Lisboa, a cidade do mundo que tem mais conexões aéreas com capitais dos PALOP: São Tomé, Praia, Bissau e Luanda.
Esta é a prova que não é preciso ser-se um gigante, nem sequer pertencer à CPLP para se ter impacto monstruoso neste espaço geográfico lusófono. Togo, um país francófono que tem a população de Portugal e um PIB oito vezes menor do que o de Angola, demonstra ter uma estratégia, visão e gestão responsáveis que lhe permitiram chegar até aqui. Em terceiro lugar como aeroporto mais bem conectado a capitais de países PALOP, surge Casablanca, em Marrocos – os voos da Royal Air Maroc param em Bissau, Praia e Luanda.
E como resolver este problema de falta de conetividade e de mobilidade dentro dos PALOP, apesar de já ter existido – e de existir ainda – tanto investimento público no setor? Para São Tomé e Príncipe, país insular que se quer desenvolver no turismo, a solução vai passar por um aumento brutal das taxas aeroportuárias para voos internacionais que irão atingir o valor surreal de 220 euros já a partir de 1 de dezembro com a finalidade de se construir, em algum momento, um novo terminal. Que melhor forma de perpetuar o país neste ciclo vicioso de isolamento, em que não se criam condições para atrair clientes – companhias aéreas, fornecedores e passageiros – e em que se prepara o terreno para depois dizer: “Agora que temos um terminal todo janota, precisamos de investir numa companhia aérea pública” porque todas as companhias fugiram aos custos astronómicos impostos. A armadilha está montada.