Em entrevista à TVI, Alexandre Fonseca, CEO da Altice Portugal, abordou os temas-chave com os quais as pessoas, as empresas e o país se defrontarão nos tempos difíceis que vivemos: “Há uma coisa muito importante: tem-se falado de dar dinheiro às pessoas e às famílias. É importante mas eu diria que temos de dar dinheiro às pessoas e às famílias em situação de desemprego – então temos de apostar em não criar esse desemprego. Temos de criar medidas que combatam o desemprego.”
Socorrendo-se do exemplo da Altice Portugal (que engloba um universo de cerca de 20 mil colaboradores, dos quais 7500 são colaboradores diretos) garantiu que a sua preocupação “tem sido a segurança e a manutenção do posto de trabalho destes 7.500 colaboradores, e essa está assegurada neste momento. Não há nada que faça indicar o contrário, antes pelo contrário, mas sim o reforço do nosso compromisso com esses colaboradores. Agora, obviamente, a redução que temos do ponto de vista comercial, leva-nos a que haja uma adaptação da estrutura de custos, e a que temos de olhar para os parceiros externos, para aqueles que não são colaboradores da Altice Portugal e vamos, neste momento, de forma tranquila, ajustar a estrutura de custos do ponto de vista daquilo que são os custos externos. Mas aliás, como estamos a fazer com outros custos, por exemplo com os investimentos, temos que fazer investimentos de rede para garantir que as redes suportam aqueles crescimentos, mas não estamos a fazer investimentos de rede estratégicos em novos negócios, num momento em que não sabemos o que vai acontecer.”
É o caso da rede 5G , cujo processo de leilão foi suspenso, e que Alexandre Fonseca acredita não existirá comercialmente em Portugal durante o ano em curso: “Isso não quer dizer que os nossos planos do ponto de vista tecnológico e de investimento não continuem ao longo de 2020. Até porque nós temos que estar preocupados, e toda a gente estará – gestores, empresários- , mas também temos que ter a tranquilidade e eu gosto, acima de tudo nestes momentos, de ter uma atitude positiva e de olhar para o futuro”.
Na entrevista concedida ao jornalista Pedro Pinto, o CEO da Altice Portugal estima que a crise que se seguirá à situação de pandemia possa ser passageira e assume a responsabilidade partilhada que recai sobre as empresas: “Mais longa ou mais curta esta será uma crise passageira, e diria que esta primeira onda da epidemia será seguida por uma segunda onda económica de recessão. Esta onda será tanto maior quanto nós pararmos tudo e deixarmos de trabalhar normalmente. E portanto, também compete a empresas como a Altice Portugal, garantir que o investimento continua, que dentro do possível a atividade económica se mantém, garantir os postos de trabalho e garantir, acima de tudo que esta liquidez está disponível nas empresas para garantir também que o futuro de recuperação seja mais rápido. E o 5G enquadra-se aí. Nós se pararmos todos os investimentos em 5G hoje, será ainda mais tarde que iremos ter o 5G. Portanto vamos continuar de forma paulatina, tranquila e mais cuidadosa a fazer esses investimentos, priorizando-os, mas obviamente que temos de pensar no futuro. Há futuro, haverá com certeza futuro e há um futuro amanhã, e que eu estou em crer, que será muito positivo.”
E reforça a sua mensagem de confiança: “Da forma como conseguimos conter esta crise, quanto mais cedo fizermos, maior é a nossa capacidade para atuar perante a onda recessiva que aí vem. Uma coisa é certa, os Governos (quer o Português, quer a nível europeu e mundial) terão de tomar decisões rápidas, decisões que sejam concretas e que sejam pragmáticas.
A agilidade e a força das medidas que sejam tomadas vai fazer a diferença entre termos uma recessão ou uma depressão, que são coisas distintas. Eu penso que a recessão é inevitável, a depressão ainda é evitável”.
No campo das medidas que não podem deixar de ser tomadas, Alexandre Fonseca sublinha as que se relacionam com investimento na saúde: “O investimento na saúde permite, primeiro, não termos de escolher entre saúde e economia (porque a escolha é óbvia – escolhe-se a saúde primeiro e só a economia depois) mas ela própria também é um investimento e nesse investimento estimula também outros investimentos na indústria da saúde (que também uma indústria de setor privado e setor público)”.
Já para a saúde da economia, inevitavelmente debilitada pela situação de pandemia, Alexandre Fonseca defende um conjunto de medidas que permitam injetar liquidez no mercado, e que podem passar por alterações de políticas fiscais e incentivos fiscais, mas também por medidas “tão simples que não aparecem sequer num Decreto-Lei. Questões como por exemplo o Estado tomar uma decisão de imediatamente libertar pagamentos às empresas que estejam há mais de 60 dias retidos. Este é um exemplo de uma medida que, se juntarmos à antecipação de reembolsos fiscais dos pagamentos especiais por conta ou do IVA, pode aumentar a liquidez”.
“É fundamental que se injete liquidez na economia para que não haja uma curva recessiva que dê origem a uma depressão de longa duração”, conclui.