A Academia do Johnson, associação no bairro do Zambujal, na Amadora, onde se verificaram desacatos na noite passada, em reação à morte de um homem por um agente da polícia, apela à "serenidade" numa manifestação agendada para hoje à tarde.
Em declarações à Lusa, o presidente da direção da associação fundada por Johnson Semedo, Carlos Simões, relatou um ambiente de "indignação" no bairro, que, confirmou, resultou em "aglomerados de pessoas" durante a noite e em distúrbios que obrigaram à intervenção da polícia e dos bombeiros (motivada por focos de incêndio em caixotes do lixo).
"Neste momento, a situação está calma e foi reposta a circulação", frisou, ao final da manhã, acrescentando que a polícia continua presente, "com um dispositivo discreto", à entrada do bairro, junto à esquadra.
"Estamos preocupados com o dia de hoje", reconheceu Carlos Simões, temendo que "descambe" a manifestação agendada para as 15:00, em protesto contra a morte de Odair Moniz, na madrugada de segunda-feira, no bairro da Cova da Moura, também na Amadora, distrito de Lisboa.
Segundo a Polícia de Segurança Pública (PSP), o homem de 43 anos estava "em fuga", tendo sido baleado por um agente por alegadamente ter "resistido à detenção e tentado agredi-los [polícias envolvidos] com recurso a arma branca".
"Minutos antes, na Avenida da República, na Amadora, o suspeito, ao visualizar uma viatura policial, encetou fuga para o interior do Bairro Alto da Cova da Moura", referiu a força de segurança em comunicado na segunda-feira.
O homem acabou por morrer no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, para onde foi transportado, e a PSP anunciou a abertura de um inquérito interno para apurar as circunstâncias da ocorrência.
Em nome da Academia do Johnson, Carlos Simões já falou com os líderes das comunidades que convivem no bairro, a quem pediu "sensatez", e vai também "conversar com a família" de Odair Moniz.
Deixando um apelo à serenidade, o dirigente realçou que "é preciso encontrar estratégias que não anulem a indignação, a zanga, a revolta, mas possam ser mais eficazes".
Odair Moniz, contou, era dono e gerente de um café com "um ambiente calmo" no bairro do Zambujal.
"Era uma pessoa bastante cordial, que dava conselhos sensatos, e não criava rebuliço no bairro", descreveu, reconhecendo a surpresa ao saber da sua morte.
A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa já contestaram a versão policial sobre a morte de Odair Moniz e exigem uma investigação "séria e isenta" para apurar "todas as responsabilidades", considerando que está em causa "uma cultura de impunidade" nas polícias.
Na segunda-feira, o Ministério da Administração Interna determinou à Inspeção-Geral da Administração Interna a abertura de um inquérito "com caráter de urgência" sobre a morte de Odair Moniz.