Há na Unity Arena um álbum de patrocínios colados ao chão. Interessado em financiar o Mundial de andebol, o LinkedIn transferiu os trocos necessários para borratar o pavimento com o seu logotipo. É na barra de pesquisas dessa rede social que escrevemos “Andrew Donlin” e descobrimos que é gestor de programas especiais da Força Aérea norte-americana, labuta que interrompeu para ir até à Noruega.

Se os Estados Unidos têm atletas no pináculo de modalidades várias, nesta precisam até de vasculhar no ninho dos pássaros para fazerem o recrutamento. Percebe-se então que a bola banhada em suor de árvore não é arte que cause grande entusiasmo num país onde tantas coisas o fazem.

Imaginemos que alguém arranjava maneira de que a seguir a um dia não se seguisse uma noite. Esquisito, não é? Esquisito e improvável. Portanto, a seleção nacional só teria que deixar o mundo seguir a sua rotina para ganhar aos Estados Unidos. Para que nenhum terráqueo estranhasse o desaparecimento do crepúsculo, o resultado (30-21) não importunou o normal funcionamento deste planeta habitável.

Enquanto central, Rui Silva era o homem que encontrava a ponta perdida da fita-cola no ataque português. Espera-se que seja sobrecarregado no que falta jogar do Mundial (e vêm aí jogos com Brasil e Noruega no Grupo E). Depois da inesperada suspensão preventiva de Miguel Martins devido a um teste de doping positivo, é o único jogador disponível para a posição. Não é que não seja normal, mas também por isso Portugal explanou a versatilidade dos seus laterais, entregando-lhes parte da organização de jogo, especialmente a Kiko Costa.

Os Estados Unidos até marcaram primeiro e só isso impediu Portugal de poder dizer que esteve na frente do resultado durante os 40 minutos. Um parcial de 4-0 distanciou logo a abrir os Heróis do Mar que nem tiveram que se desgastar muito em substituições relâmpago, confiando em várias posses de bola que quem defendia era também capaz de atacar.

Stian Lysberg Solum

Durante as operações mais racionais e organizadas lá na frente, Martim Costa evitou serpentear pelo contacto duro dos defesas, encontrando formas de, aos sete metros, concretizar grande parte dos seus sete golos (o melhor marcador do encontro a par de Pedro Portela). A ligação com os pivôs, Luís Frade e Victor Iturriza, também ia funcionando.

O resultado ao intervalo (15-10) era consequência de um jogo morno em que Portugal controlava, dando a Paulo Pereira confiança para fazer algumas mudanças. Diogo Rêma foi o guarda-redes que mais tempo esteve na baliza, mas Gustavo Capdeville também foi testado. Do mesmo modo, nas pontas, Areia e Portela, na esquerda, e Branquinho e Leonel Fernandes, na direita, serviram de cobaias para a criação de várias nuances no sistema.

Alguma displicência, até em cenários de um para zero, contiveram as contas. Nada que impedisse o selecionador nacional de cumprir algo que parecia perspetivado. Ricardo Brandão e João Gomes fizeram o primeiro jogo em grandes competições, enquanto que Miguel Oliveira, jogador do FC Porto que só foi integrado na comitiva na véspera da viagem para Oslo, fez a estreia absoluta com a camisola de Portugal. Ao menos alguém que leve algo de especial de um encontro de tensão baixa.