O arranque foi para sonhar. Um ritmo brutal, uma vantagem inicial confortável. Liderança aos 100 metros, aos 250 metros, aos 500 metros. O pior veio depois.

Pouco a pouco, Fernando Pimenta foi perdendo a margem que ganhara. Primeiro deixou a liderança, depois o pódio. Acabou sem energias, esgotado. As medalhas ficaram a 4 segundos, uma margem muito grande nesta final de K1 1.000 metros.

Pimenta não será o primeiro atleta nacional com três medalhas em Jogos Olímpicos. Não para já, pelo menos, não em Paris 2024.

A anormal quantidade de bandeiras portuguesas nas margens das águas que glorificam Pimenta evidenciava a expetativa com o momento. Há, sempre, bandeiras nacionais em qualquer canto destes Jogos, mas desta vez há mais, a presença evidencia as esperanças que Fernando criou com o seu próprio mérito.


Numa manhã quente em Vaires-sur-Marne, de água cristalina e sol a bater nas embarcações, de calor, de muito calor, os segundos antes do começo da final foram de inesperada cerimónia. Um bando de sete aves voou por cima das águas, planando como se estivessem a realizar uma coreografia, merecendo sorrisos e aplausos.

Na pista 3, Pimenta bateu uma continência antes do arranque. A partida do português foi brutal, supersónica. No primeiro quarto da competição, chegou a ter mais de meio barco de vantagem. A fatura seria paga depois.

Aos 500 metros, a meio desta quente final, a vantagem ainda era do limiano, mas os metros foram-se perdendo. As forças escasseavam, o custo da energia gasta no início foi pago.

Quando passou para 4.º, vimos um Fernando sem nada para dar. Os últimos 100 metros foram de esgotamento total, de grandes dificuldades, de tristeza nacional. O ouro seria para o checo Josef Dostal, a prata para o húngaro Adám Varga, o bronze para Balint Kopasz, também húngaro.

A lenda de Pimenta é já imortal. A glória das 145 medalhas, dos dois pódios olímpicos, de novos cumes alcançados para o desporto nacional, tudo isto será eterno. Mas agora, debaixo do sol de Vaires-sur-Marne, é a face de tristeza que fica como o retrato desta final.