Os operacionais que estão na linha da frente e que prestam os primeiros socorros às vítimas em situações de emergência guardam na sua memória inúmeras histórias de momentos de aflição. Algumas complexas, outras inusitadas e, infelizmente, outras trágicas, mas todas têm em comum uma característica: são únicas.
“Não posso guardar isto só para mim, tenho de fazer alguma coisa! Tenho de pôr isto no papel!” e foi isso mesmo que a psicóloga Ana Cristina Oliveira fez, e que resultou na publicação do livro “Vidas da Emergência Pré-hospitalar: Contexto, Equipas e Intervenção Psicossocial”, que contou com a colaboração de 20 profissionais das diversas áreas abordadas.
“Foi numa das viagens de regresso a casa, vinda de um quartel de bombeiros onde fui dar formação sobre competências psicológicas, que fui ‘visitada’ pelas histórias de operacionais com quem me fui cruzando ao longo destes anos… Partilhei com três amigos esta ideia de avançar com o projeto que culminou neste livro, que pretende dar voz aos operacionais, às suas experiências, às suas vidas, às suas conquistas”, afirma Ana Cristina Oliveira.
Trabalhar no contexto de emergência pré-hospitalar é um ofício desafiante que exige que os operacionais de socorro necessitem de conhecimentos muito específicos para atuarem em situações de emergência e de um conjunto de competências pessoais que lhes permita gerir os níveis de stress destas situações. Nesse sentido, este livro pretende ser um apoio para todos os técnicos e operacionais das equipas de apoio à emergência, bem como para psicólogos, formadores, estudantes e todos os outros profissionais que atuem ou tenham interesse na área do socorro pré-hospitalar.
A obra está dividida em 16 capítulos e é composta por duas partes: na primeira, apresentam-se histórias dos operacionais, comentadas pela coordenadora, psicóloga e especializada na área da intervenção na crise e no trauma. Na segunda parte é feito um enquadramento teórico e prático, realizado por profissionais de referência nas áreas da emergência, da segurança e da saúde mental e organizacional, abordando o exercício voluntário e profissional desta atividade, a formação e o treino dos operacionais, a gestão de emergências simples e complexas, os riscos psicossociais, as crises, o trauma, a resiliência e o crescimento pós-traumático.
“Estava na escola e um infeliz incidente entre dois colegas resultou num trágico acidente. Guardo comigo e acompanham-me imagens, sons e sensações desse acontecimento, (…) Passam cerca de 30 anos desse momento, e tanto mudou. Temos hoje outra sensibilidade na sociedade para o impacto destas situações na saúde, incluindo naturalmente na saúde mental e bem-estar. Impactos para quem vive (direta ou indiretamente) ou observa situações de crise, catástrofe e/ou situações trágicas. Temos hoje profissionais de diversas áreas, em diversos contextos, mais preparados e capacitados para responder e apoiar nestes desafios”, conclui Tiago Pereira, psicólogo e membro executivo da direção da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
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