O líder do PS acusou o primeiro-ministro de "enorme falta de sensibilidade, empatia e respeito pelas vítimas" nas declarações a propósito de violência sobre as mulheres por considerar ser preciso "menos ligeireza e mais respeito pelos factos". E as deputadas do Bloco de Esquerda (BE) Joana e Mariana Mortágua também condenaram a forma como o primeiro-ministro falou sobre a violência contra as mulheres numa conferência esta segunda-feira.
Luís Montenegro mostrou-se convicto de que o aumento dos casos de violência doméstica se deve ao facto de haver mais denúncias e não a um "aumento real". "Um dos fenómenos que aconteceu nos últimos anos foi que muita coisa saiu do armário em que estava escondida. Não quero chocar ninguém, mas tenho a consciência que o aumento a que assistimos nos últimos anos não significa um aumento real, significa um aumento do conhecimento. Estou até convencido que a nossa sociedade já foi muito pior desse ponto de vista", afirmou o primeiro-ministro no discurso na sessão de encerramento da conferência “Combate à violência contra mulheres e violência doméstica”, na Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais,
"O cidadão Luís Montenegro tem o direito de achar coisas, mas a um primeiro-ministro exige-se menos ligeireza e mais respeito pelos factos, especialmente quando falamos de violência exercida sobre mulheres", criticou, através das redes sociais, Pedro Nuno Santos. O líder do PS referiu que a Polícia Judiciária registou 344 mulheres violadas entre janeiro e setembro e que este ano foram assassinadas 25 mulheres em Portugal. "Afirmar, perante estes factos, que a realidade 'já foi muito pior', é, no mínimo, uma enorme falta de sensibilidade, empatia e respeito pelas vítimas", condenou o líder socialista
Foi também nas redes sociais que reagiu a líder do BE. “Montenegro, que ordena operações para aumentar a ‘percepção’ de segurança, tem a ‘percepção’ de que a violência contra mulheres não aumentou (apenas as queixas). Menos percepções e mais factos aconselhariam o PM a levar mais a sério o maior problema de segurança interna - este”, escreveu Mariana Mortágua, fazendo referência à megacampanha policial que o Governo lançou para combater o sentimento de insegurança em várias cidades.
Antes da líder do BE, já a deputada Joana Mortágua tinha criticado as afirmações de Montenegro. “Se o PM se preocupasse mais com os números e menos com as perceções que agradam à extrema direita, percebia que o maior e mais profundo fator de crime violento em Portugal é o machismo e não a imigração ou a pertença étnico-racial das comunidades”, escreveu na rede social X.
No congresso do PSD, em outubro, Montenegro tinha colocado a violência doméstica nas suas prioridades. Considerou este tipo de violência “um crime indesculpável” e anunciou o aumento de apoios: “Vamos duplicar o valor do apoio para a autonomização das vítimas deste crime: vamos investir mais 25 milhões de euros nos instrumentos de teleassistência e transporte das vítimas e vamos garantir que as mulheres que são acolhidas em casas de abrigo fora da sua área de residência terão acesso imediato aos cuidados de saúde nas localidades de acolhimento."